Maldita tecnologia

O relatório anual da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) sobre a tecnologia na educação alertou para o risco da exposição prolongada aos ecrãs e ainda para o risco de casos de bullying digital.

Os especialistas apontam para o perigo que constitui a utilização abusiva do telemóvel, sobretudo nos recreios escolares. É nestes momentos de lazer que começam a ser desenhados muitos dos casos de cyberbullying nas escolas.

Muitos defendem a proibição total do uso de telemóvel nas escolas, apontando as principais razões da proibição: cyberbullying, visualização de conteúdos impróprios, dependência de ecrãs nos recreios (em jogos e redes sociais), diminuição da actividade física, falta de interacção com os pares, uso abusivo do telemóvel na sala de aula, entre outros.

Por outro lado, há quem considere que a tecnologia móvel pode ser utilizada com vantagem no processo educativo. Quando o professor consegue transformar o telemóvel num aliado, este transforma-se num auxiliar educativo de extrema utilidade. 

Se quisermos abordar este assunto com seriedade temos que admitir que o problema não está nos telemóveis mas sim na forma como são utilizados. A solução deste problema não passa pela proibição mas pela utilização responsável. Em vez de olharmos apenas para os aspectos negativos, que não podem ser negligenciados, podemos tentar aproveitar o potencial de uma verdadeira máquina de aprender que alunos e professores podem explorar de forma proveitosa.

O telemóvel deixou de ser apenas um meio de comunicação e um objeto de lazer, tendo-se transformado no principal meio de socialização entre crianças e adolescentes. Quando chegam à escola, os alunos já trazem hábitos enraizados, encontrando-se amplamente expostos ao uso dos telemóveis no seu entorno social e familiar. É impossível negar esta evidência e muito difícil contrariar esta tendência. 

A proibição total do telemóvel implica o corte de comunicação com toda a rede de socialização das novas gerações. Não se pode eliminar esta experiência.

Em vez de proibir o uso dos telemóveis é preferível ensinar professores e alunos a utilizá-los de forma útil e positiva. Uma atitude meramente proibitiva é contraproducente numa época em que a utilização da tecnologia ainda é insuficiente nas escolas para fazer face aos desafios atuais do mundo do trabalho.

Numa era em que o conhecimento e o domínio tecnológico são essenciais, o papel da escola não deve ser proibir a tecnologia, mas antes liderar a transição digital e ajudar a desenvolver nos alunos as diferentes competências necessárias para o futuro: comunicação, criatividade, colaboração, resolução de problemas e pensamento crítico. A capacitação digital dos aprendentes é fundamental e a tecnologia pode ser integrada no sistema educativo com vantagem, com equilíbrio e com propósito.

Está a ser feito um grande esforço por parte de muitos professores para integrarem diversas tecnologias digitais na sua prática letiva, criando novos ambientes de aprendizagem sem nunca deixarem de ser críticos em relação ao custo/benefício e sem fazer delas o centro do processo de ensino e aprendizagem. Depois deste caminho, não podem agora voltar ao tempo da ardósia.

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